X

Olá! Você atingiu o número máximo de leituras de nossas matérias especiais.

Para ganhar 90 dias de acesso gratuito para ler nosso conteúdo premium, basta preencher os campos abaixo.

Já possui conta?

Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Cidades

“Cada um reage de forma diferente à dor do racismo”, diz advogado

Ex-secretário de Justiça do estado de São Paulo diz que o sofrimento do preconceito o levou aos caminhos do Direito


Imagem ilustrativa da imagem “Cada um reage de forma diferente à dor do racismo”, diz advogado
Hédio Silva Júnior foi o primeiro advogado negro a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal |  Foto: Aquiles Brum

Advogado, mestre em Direito Processual Penal e doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP, Hédio Silva Júnior, 62 anos, contou em entrevista no Estúdio Tribunaonline que sua primeira lembrança de sofrer com o racismo remonta aos 4 anos.

Explicando que a história de cada pessoa deve ser respeitada, ele, que foi servente de pedreiro até os 15 anos e é ex-secretário de Justiça do estado de São Paulo, afirma que o sofrimento do preconceito o levou para os caminhos de hoje. “Cada um reage de forma muito diferente à experiência dolorosa do racismo”.

Leia mais notícias de Cidades aqui

Hédio foi o primeiro advogado negro a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF), na defesa das cotas raciais e, em outra ocasião, na mesma Corte, defendeu o direito ao pleno exercício das religiões de matriz africana ao sacrifício de animais para fins de rituais religiosos.

A Tribuna – O senhor gostaria de falar um pouco sobre a sua trajetória?

Hédio Silva Júnior Sou mineiro. Fui peão de obra até meus 15 anos. Passei por uma experiência traumática de racismo em sala de aula, que me projetou para o movimento negro. Cada um reage de forma muito diferente à experiência dolorosa do racismo. No meu caso, a reação foi a militância, o engajamento e a leitura.

Fui para o Direito, na graduação, mestrado e doutorado. Fui o primeiro preto de religião de matriz africana secretário de Justiça do estado de São Paulo. E me orgulho de, nos últimos 30 anos, ter desenvolvido no meu escritório uma advocacia em defesa das vítimas de racismo e racismo religioso. Eu sou um produto do povo preto, dos meus ancestrais, do movimento negro brasileiro.

Como o senhor entendeu que tinha sido vítima de racismo e que queria ser diferença?

Eu havia sido preparado. Minha mãe era branca e uma das maiores dores dela era as pessoas duvidarem que eu e meu irmão éramos filhos dela. Na hora ela não reagia, mas em casa chorava. Eu tinha uns 3 ou 4 anos.

O fato de minha mãe pautar isso com a gente, eu não tinha dúvida que era um ato de violência resultante do racismo.

O que significou para o senhor ser o primeiro advogado negro a fazer as sustentações orais no STF?

Nós, povo preto nas Américas, somos 10 milhões de pessoas sequestradas para erguer, ao longo de três séculos, o novo mundo.

Então, a distância que me separava ali, daqueles ministros, era de 500 anos. Esses cinco séculos entre o advogado e os ministros são de muita dor, mas também de afirmação, de dignidade e resistência. É uma história muito bonita. Eu me sinto parte desse elo.

Por que a periferia ainda é tão marginalizada?

Há um desvalor da vida do corpo negro. O Oscar Vilhena Vieira, diretor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV Direito-SP), escreveu um artigo na Folha de São Paulo (25/08/2023), em que diz que um milhão de pessoas foram assassinadas no Brasil, a maioria negra. É 1/6 do holocausto judeu, que estima-se seis milhões de pessoas.

Boa parte é letalidade policial. As pessoas hoje estão falando essa história de racismo estrutural, isso é um crime, porque quando o policial aperta o gatilho, ele está autorizado pela sociedade. E isso está “incorporado à paisagem”.

O racismo, a ideologia, o Estado pretendem nos destituir da nossa humanidade. Então, não se pode atribuir o racismo a uma estrutura, isso é um crime. Alguém tem que ser responsabilizado.

Dificilmente há prisões por racismo no Brasil. Por quê?

Temos uma série de problemas. São poucos os crimes referidos na Constituição Federal, um deles é o racismo. Não significa que a lei penal seja o único instrumento legal de enfrentamento do problema. O povo preto no mundo inteiro é a maior prova que a prisão é discutível como método de solução de conflito.

Qual é o principal problema quando o assunto é a “porta de entrada do sistema penal” em se tratando de racismo?

A CPI da Intolerância Religiosa no Rio de Janeiro identificou 5 mil boletins de ocorrência. Eu até costumo dizer o seguinte: “Esse negócio de bo, dá bo”.

Desses 5 mil, não se sabe quantos resultaram em inquérito, quantos foram relatados ou deram base à denúncia, se foi aceita, se houve condenação, não se sabe. O resultado imediato é o descrédito da população na lei.

Qual a alternativa ao boletim de ocorrência?

É um relato de crime que a lei chama notícia-crime, que qualquer pessoa pode fazer. Faz o relato e, a partir daí, você passa a controlar a resposta que o sistema vai dar àquela violação de direitos.

Onde é possível registrar a notícia-crime?

Na delegacia de polícia e no Ministério Público, obrigatoriamente. Digo e repito, qualquer pessoa pode fazer, mas é recomendável que um advogado faça, pois o advogado foi treinado para isso.

Agora, há situações em que você obrigatoriamente tem que acionar a polícia, se você foi agredido.

Assista aqui a entrevista completa no Estúdio Tribuna Online

Quem é 

  • Nome: Hédio Silva Júnior.
  • Nasceu em Três Corações (MG).
  • Mora em São Paulo.
  • Formação: Mestre em Direito Processual Penal e doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP.
  • Profissão: Advogado e ex-secretário da Justiça de São Paulo. Fundador e presidente do Instituto de Defesa do Direito das Religiões Afro-brasileiras (Idafro).
  • Coautor do recém-lançado e-book “Responsabilidade Civil Objetiva por Ilícito Racial e Religioso”.

MATÉRIAS RELACIONADAS:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Leia os termos de uso

SUGERIMOS PARA VOCÊ: