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Cidades

“Precisamos exercitar a arte de ganhar e perder”, diz especialista

Especialista afirma que, nesta época do ano, é importante ser mais tolerante com os sentimentos e as pessoas ao redor


Imagem ilustrativa da imagem “Precisamos exercitar a arte de ganhar e perder”, diz especialista
Christian Dunker: “Esse momento não é hora de dar sermão e aulas” |  Foto: Divulgação

A esperança que surge com a chegada de 2023 e com a possibilidade de novas oportunidades desperta sentimentos diferentes. A melancolia do encerramento de um ciclo, a angústia e a ansiedade de não terem completado as metas do ano e a felicidade de se fazer uma nova história  são sentimentos que surgem de forma avassaladora. 

 De acordo com o psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, o sentimento é normal, mas é preciso  exercitar a  arte de ganhar  e perder e ter tolerância com os sentimentos que surgem nessa época do ano e  com as pessoas ao redor. 

A Tribuna - Na  virada do ano, que sentimentos  costumam surgir?  

Christian Dunker - Nas culturas  em geral,  as datas são fortes portadores simbólicos. Isso significa que geralmente as pessoas reatualizam pactos e têm, ao mesmo tempo, uma função de memória. Ou seja, quando a gente chega perto do Natal,  é como se todos os Natais anteriores fossem avivados, fossem reativados, produzindo uma certa expectativa de reencontro. 

Como é uma festa familiar, mas muito centrada na criança, é justo que as nossas lembranças e experiências de infância sejam recaptadas, ganhem formas e comecem a nos invadir com um conjunto de sentimentos, que são memoriais, comemorativos, ou seja, junto e lembrando, memorando.

Só que isso nem sempre é pacífico e tranquilo. Porque junto com a nossa infância, junto com a expectativa para se reencontrar nesse momento, vamos encontrar os conflitos que a gente vivia.

Conflitos esses que, em geral, vão sendo mitigados, empurrados para frente, mas nem sempre resolvidos. Então,  a reunião de Natal  acaba sendo  tensa para muitas pessoas. Mas ao mesmo tempo alegre, de confraternização. 

Esse aspecto ambivalente, de sentimentos misturados, pode entrar em associação com o conflito com todos presentes e criar uma espécie de rastilho de pólvora. Porque, além desse processo de retomar lembranças, de voltar a conflitos anteriores, ainda tem o cansaço e o estresse provocados por essa época do ano. 

Nesse período as pessoas estão cansadas,  estão assim aceleradas porque muitos têm que dar uma acelerada para fechar as coisas para o final de ano, e que já se inicia no Natal e tende a terminar no  Ano Novo,  um processo de autoavaliação, crítica, ponderação sobre a vida e de reflexão sobre suas escolhas. O que é ligado à família.

Esse sentimento muda no Ano Novo?

Ele muda porque, assim como o Natal é uma festa do passado, ligada a um fio de continuidade com a nossa história,  o Ano Novo está ligado ao futuro, à ruptura com aquilo que a gente quer deixar para trás. São as promessas como parar de fumar, emagrecer, deixar os pecados e criar um novo futuro. 

Tanto que passamos o Natal em família, muitas vezes, e o Ano Novo vamos procurar os amigos, saímos de casa, vamos para a praia. 

Esse hábito tem a ver com essa estrutura simbólica da data. Porque ficar em casa é se encontrar com o que você já tem, enquanto sair e  fazer uma viagem é ir para o mundo. 

Depois do Ano Novo, a gente consegue equilibrar  esses sentimentos?

Os desencadeamentos, as crises e os ataques nervosos, digamos assim, costumam acontecer antes ou nas imediações do Natal. Depois disso, temos outros processos que têm valência psíquica, ficamos em um estado meio de ressaca. 

Começa o ano e está todo mundo meio contente, meio introspectivo, ainda em continuidade desse balanço, como se estivesse gestando. No fim da gravidez tem um mundo novo! Novas ideias, decisões. 

Por exemplo, no Natal a pessoa chega à conclusão de que o casamento não dá mais. Quando ela anuncia isso? No Ano Novo.

Depois do Ano Novo é mais propício  tomar decisões?

Sim. Mas  isso  é uma temeridade! Se por um lado isso é provocado por causa da data e dos acontecimentos, por outro não é realmente o momento em que estamos na nossa melhor condição em termos de saúde física e mental. É uma época que estamos miúdos, revirados, nervosos e ansiosos. Chance de dar errado é grande! Então é interessante evitar. 

O que podemos fazer nesse início de ano para melhorar nossa saúde mental?

 Nosso psíquico tem grande relação com as pessoas com quem nós vivemos.  Diria que a primeira medida é não ignorar as dificuldades. Não negar que muitas famílias estão em conflitos tensos, ou seja, é preciso ir com calma, evitar  um pouco aqueles elementos que soltam as nossas inibições. Muita bebida, muita euforia, isso pode concorrer para um desastre.

Outra coisa é fazer uma combinação, equação do que temos a ganhar voltando aos nossos recursos familiares, nossos afetos,  que são muito importantes para a nossa saúde mental. Mas também avaliar o que temos a perder se eles estão afetados por brigas e discussões.  

Vamos precisar exercitar a arte de ganhar e de perder. Esse momento não é hora de dar sermão e aulas nos encontros de família.

É muito importante entender essa época do ano. Que é uma época diferente mesmo. É entender que podemos ser um pouco mais tolerantes com as nossas metas, com as nossas contabilidades subjetivas, com o nosso produtivismo, com a ideia de que a vida é produção e consumo. 

Vamos olhar as coisas de um outro ponto de vista, vamos renovar o olhar, vamos mudar o foco. Esse é o novo ano que a gente pode se dar no Ano Novo.


Quem é 


Christian Dunker

Psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) junto ao Departamento de Psicologia Clínica.

Tem mestrado e doutorado em Psicologia Experimental.

É um dos coordenadores do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP.

EMm2012, ganhou o prêmio Jabuti de melhor livro em Psicologia e Psicanálise com a obra “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica” (Annablume, 2010).

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