Médico jovem ou experiente?
Coluna foi publicada nesta terça-feira (21)
A sociedade age de forma preconceituosa ao definir o que pode e não pode ser feito a partir de determinada idade. Os preconceitos aos idosos são baseados, entre outros, na capacidade laboral, empenho e fragilidade.
Segundo esses princípios, mesmo gozando de plena saúde, os idosos deveriam se retirar para uma vida de contemplação, antes que a mente fique fora do alcance da decadência do corpo.
Por outro lado, também existe discriminação contra profissionais jovens, principalmente na profissão médica.
Atendendo um veterano colega médico, ouvi o curioso desabafo: “Amigo, em breve estaremos nas mãos dessa 'garotada', cuja formação médica está sendo diferente da nossa”, queixou-se.
É muito comum que o médico tenha, como referencial de qualidade, os seus anos de experiência. Existe o estereótipo de que os profissionais com mais anos de tarimba mereçam mais confiança do que aqueles com menos tempo de atuação.
Na medicina, a experiência é tratada como prêmio, com a idade sendo um substituto para experiência. Nada é mais reconfortante para o paciente do que ver chegar um médico grisalho para atendê-lo, em uma emergência. Médicos mais velhos são tratados como maior fonte de sabedoria, inclusive por outros médicos.
Jovens ou idosos, penso que ambos devem seguir digerindo velhos conhecimentos e ingerindo novas informações.
O exercício médico consiste em estudar seis anos para passar a vida toda estudando.
Medicina é uma arte em constante evolução, onde a aprendizagem nunca cessa, mesmo para médicos com décadas de experiência.
Médicos experientes, que permanecem comprometidos com a aprendizagem, adotam tecnologias médicas inovadoras.
Mesmo que algumas pessoas se sintam mais tranquilas quando são atendidas por médicos de mais idade, teoricamente mais experientes, o julgamento clínico e a tomada de decisão podem fazer a diferença, independente da faixa etária.
Em algumas situações, o tempo de vivência profissional pode até atrapalhar, em vez de auxiliar. Médicos com mais idade costumam ter uma maior confiança na sua experiência, o que pode prejudicar a avaliação de casos mais complexos. A ideia de já ter visto vários casos como aquele faz o profissional agir no automático e deixar de prestar atenção em detalhes importantes.
Além disso, médicos de diferentes faixas etárias se formaram com décadas de diferença. Quanto mais jovem é o profissional, mais recentes são os conhecimentos clínicos adquiridos na universidade. Se os médicos mais velhos não acompanharem os avanços em pesquisa e tecnologia, ou não seguirem as diretrizes mais recentes, seu atendimento pode não ser tão bom quanto o de seus colegas mais jovens, lembrando que envelhecer é inevitável, ficar velho é opcional.
Semana passada, um paciente me perguntou:
- “Quantos anos o senhor tem, doutor João?”
- Eu tenho sete décadas de idade e meio século de medicina.
- “Por que o senhor continua estudando tanto?”
- Quero entrar no paraíso, mais sábio.