Carnavalize-se!
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (08)
As festividades do Carnaval possuem origem milenar, e o Carnaval trazido pelos portugueses para o Brasil provém das festas romanas que visavam celebrar a fertilidade, colheita e renovação. Mas a folia, em um país colonizado pelo catolicismo, acabou garantindo uma vaga no calendário conforme esta influência.
Percebam que o Carnaval possui dias bem definidos e precede a Quaresma, ou seja, tem dia e hora para acabar para após seguirmos 40 dias de penitência em busca de purificação.
Esta ideia da limitação do tempo de alegria é presente no dia a dia das pessoas. De certa forma, muitos esperam uma data importante para poderem “se jogar”.
Esperam um aniversário, uma viagem, uma festa, um show e até mesmo o próprio Carnaval para se sentirem livres! Somente nestes momentos se permitem colocar aquela roupa mais ousada ou enfeitada que adoram, comer ou beber a mais que a dieta permite, e até mesmo amar de forma eufórica o outro a si.
Ninguém aqui está estimulando os excessos ou uma vida de eterna fantasia, até porque muitos teóricos da Psicologia, como Freud, Carl Gustav Jung , Aaron Beck e Erich Fromm - de maneiras diferentes - já afirmaram que ambos configuram-se como uma fuga da realidade e do enfrentamento que a ela precisamos fazer.
Mas temos um problema quando o limitar-se gera a perda da identidade ou a limitação da construção da mesma.
Precisamos tomar cuidado sobre as máscaras que acabamos usando no dia a dia. Máscaras que não nos permitem ser quem somos de verdade.
A máscara do trabalhador incessante, a máscara da mulher tradicional, a máscara da sexualidade limitada, a máscara da beleza determinada como padrão e por aí vai.
O uso constante de máscaras limitadoras geram uma consequência: quando chega a festa tão esperada, tudo que a pessoa deseja é poder sair daquele lugar de prisão e fazer tudo que pode e que não pode.
E é justamente neste ponto que perdemos a rédea da nossa vida. O “enfiar o pé na jaca” acontece, o “viver como se não houvesse amanhã” se torna real e consequentemente o remorso pelo excesso aparece no dia seguinte.
Percebam! Nenhuma das duas alternativas são interessantes para nós. Quando instigamos os leitores, no início do texto, ao dizermos “carnavalize-se”, estamos afirmando que há uma necessidade de conseguirmos curtir a vida com alegria, seguindo nossos desejos e sonhos de maneira saudável como sujeito e como ser social.
Estamos dizendo que a alegria não precisa esperar o Carnaval chegar, pois ela pode estar presente em outros dias que estão por vir, mas que também a euforia continua é uma mentira.
Tem uma frase eu adoro falar com meus pacientes: “tudo que é demais é ruim, mas tudo que é muito pouco também”. Ou seja, podemos possuir o equilíbrio para vivermos felizes e sem excessos que posteriormente nos gerem o sentimento de culpa e nos façam sentir mal.
Assim sendo, é preciso que reconheçamos as máscaras que estamos usando, pois senão perdemos o controle sobre nossas vidas, seja no meio do Sambão do Povo, seja atrás da mesa de um escritório.