Os danosos movimentos antivacinas
Coluna foi publicada nesta terça-feira (19)
Nada é permanente nesse mundo, nem mesmo os problemas. O implacável coronavírus perdeu o status de assassino e ganhou o título de professor. Aprendemos bastante com a pandemia. A necessidade fez a ciência pular e a medicina correr.
Embora o emprego de RNA mensageiro seja novo para o leigo, trata-se de uma tecnologia na qual os pesquisadores vêm apostando há décadas.
Essa abordagem levada até as vacinas contra o temido vírus vem se mostrando promissora contra velhos inimigos, como o HIV, por exemplo.
A tecnologia de RNA mensageiro também está sendo testada para tratar alguns tipos de câncer, como melanoma e tumores cerebrais.
Ao combater doenças autoimunes, essa estrutura está sendo verificada também como sendo uma possível alternativa à terapia genética.
As vacinas de mRNA remontam ao início dos anos 1990, quando pesquisadores começaram a usar a molécula de mRNA para curar e prevenir doenças.
Diante da ameaça de uma nova pandemia, os cientistas reconheceram a característica promissora das vacinas de mRNA.
Criar um novo imunizante pelos métodos tradicionais, isolando e cultivando o vírus, demandaria longo tempo. Usando o RNA mensageiro, bastaria a sequência viral.
Pesquisas sobre os vírus da SARS e da MERS ajudaram os pesquisadores a entender qual versão da estrutura encontrada na parte externa do vírus, chamada de proteína spike, deveria ser usada na preparação de vacinas.
A tecnologia de mRNA vem sendo estudada também para combater o câncer. O organismo humano luta contra neoplasias todos os dias, e o uso de RNA mensageiro pode ajudá-lo a fazer isso de forma ainda melhor.
Diferentes tipos de células tumorais têm várias estruturas na parte externa, que o sistema imune pode reconhecer. Vacinas personalizadas serão de grande ajuda para ativar o sistema imunológico.
Enquanto o mundo vivia o drama de uma doença grave e mortal, outra pandemia, mais sutil, vinha se desenvolvendo, com efeitos igualmente perigosos. Tratava-se de uma onda de desinformação envolvendo tanto a covid-19 quanto os esforços da ciência para encontrar, o quanto antes, uma vacina que poderia preveni-la.
De 2019 a 2021, a desinformação ligada à saúde obteve um alcance quatro vezes maior do que as informações confiáveis, provenientes de instituições sérias.
Quem sofre, vendo seu sistema imunológico perder a batalha contra um câncer, por exemplo, jamais negaria à ciência o sagrado objetivo de curá-lo.
Situando-se entre a razão e a fé, os mitos são considerados sagrados.
Quando Prometeu se apossou do fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens, sua punição foi imensa. Zeus acorrentou-o a um penhasco, onde uma águia devorava diariamente seu fígado, que se reconstituía tão rapidamente quanto havia sido devorado. Prometeu, cujo nome lembra promessa, foi salvo por Hércules, que matou a águia.
Não é disso feita também a ciência e sua história, protegendo a fragilidade humana oculta em uma casca de invulnerabilidade?