Por que dói tanto perder um pet?
Coluna foi publicada nesta terça-feira (06)
Eu acredito que a medicina veterinária seja mais sensorial que a medicina humana. Pacientes utilizam comunicação oral, facilitando o exame clínico do médico. Mesmo em pediatria, a criança ainda pode contar com a mãe, essa criatura que tanto compreende a linguagem corporal do filho.
O veterinário se baseia no comportamento, avaliação física e exames complementares para decifrar os mistérios que dormitam no animal, inquieto ou apático, ansioso ou sereno, mudo ou emitindo sons característicos, tentando se fazer entender.
Presenciei, no Hospital Silvestres, a maneira dedicada e carinhosa como são tratados esses “anjos terrestres” pelos veterinários Eduardo Lázaro, Diego Martins e Gabriel Breder.
Perder um ente querido consome enorme energia emocional. A mistura de angústia, depressão, insônia, anorexia e astenia, temperam a paralisante anedonia gerada pelo sofrimento.
A dor da perda depende do manto emocional que aquece o vínculo. Existem indivíduos que tratam seus pets como filhos amados. Existem pais que tratam seus filhos como animais indesejáveis.
O luto é uma reação que surge diante do rompimento de laços afetivos importantes. Pessoas criam vínculos com pessoas e animais. Animais criam vínculos com animais e pessoas.
Perder faz parte do ciclo vital. Quando o ser vivo se depara com essa situação, que pode ser material, física, emocional, entre outras, é natural que ele vivencie um processo de luto.
O sofrimento resultante do vínculo estabelecido entre pessoas e animais mostra que aquilo que foi perdido tinha um significado importante.
O tempo alimenta, com amor, aquele que cria um pet. Ao perdê-lo, o tutor vivencia uma dor temperada com saudade. Quem está de fora pode não entender a dimensão desse luto.
Anos de convivência, momentos felizes e amor incondicional, criam uma relação que jamais será esquecida.
O sofrimento amedronta, mas faz parte da existência. Ainda assim é difícil entender que a morte seja um processo natural. A relação do ser humano com seus animais de estimação exalta a importância do amor.
Além do luto relacionando à morte de uma pessoa, um processo semelhante também acontece quando perdemos um pet muito próximo e querido.
Sendo o sofrimento real, a dor e a elaboração do luto por causa de um animal podem ser exatamente iguais aos sentimentos vividos, quando um ente querido morre.
Indivíduos sem vínculos com o animal de estimação que veio a falecer, devem respeitar aquilo que o tutor está passando e tomar cuidado para não serem insensíveis e duros.
É prudente não julgar o enlutado e, principalmente, não minimizar seu sofrimento com frases do tipo: “Era só um porquinho da índia, não tem motivo para tudo isso!”.
Deixe o sofredor elaborar seu luto. Respeite as lágrimas que deságuam da dor.
Perdemos pessoas, animais e sonhos; enfim, somos colocados diante das perdas o tempo todo e, muitas vezes, não percebemos isso. Mas, ao falar de perda, estamos louvando a vida.