Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Tribuna Livre

Tribuna Livre

Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Os catatônicos

Coluna foi publicada no domingo (14)

Pedro Valls Feu Rosa | 15/04/2024, 12:11 12:11 h | Atualizado em 15/04/2024, 12:11

Imagem ilustrativa da imagem Os catatônicos
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Divulgação

Um zumbi é um ser humano dado como morto que, após sepultado, foi desenterrado e reanimado por meios desconhecidos. Devido à falta de oxigênio na tumba, os zumbis padeceriam de morte cerebral, permanecendo em estado catatônico.

O norte-americano Donald Miller Jr. é um zumbi. Nos idos de 1986, ele simplesmente desapareceu. Sua esposa requereu, então, a declaração formal de sua morte, a fim de que pudesse começar a receber do governo auxílio financeiro que permitisse o sustento das duas filhas do casal.

Foi assim que em 1994 Donald Miller Jr. foi declarado legalmente morto. Mas, eis que, para surpresa geral, o dito cujo reapareceu em 2005. Apurou-se que ele permanecera durante todos aqueles anos vagando sem rumo pelo país afora.

Na qualidade de morto, Donald não poderia ter carteira de identidade, seguro social ou permissão para dirigir veículos, claro. E assim ei-lo às portas dos tribunais, requerendo uma decisão judicial que o declarasse vivo, a fim de que pudesse obter os documentos necessários a uma vida normal.

Eis que sua esposa defendeu, em juízo, que Donald deveria continuar mesmo morto – conforme declarou ao juiz, ela teria medo de ter que devolver todo o auxílio financeiro recebido do governo durante tantos anos por conta da suposta morte.

Seguiu-se a este ato insólito um outro pior ainda: o juiz escreveu, em sua sentença, que as leis estaduais simplesmente não previam a possibilidade de ressurreição de um ser humano. Assim, concluiu por declarar que “o Poder Legislativo estaria obrigado, diante do caso deste morto-vivo, a mudar as leis”.

E assim lá está, vagando sem destino pelas ruas norte-americanas, Donald Miller Jr., o primeiro zumbi legalmente reconhecido da história!

Que tal meditarmos sobre este episódio? Nele estão presentes advogados destacados, um juiz experiente, um sistema legal que se anuncia como sendo o mais moderno do mundo e uma sociedade notoriamente avançada cientificamente. No entanto, lá está o zumbi a zombar de tudo isso!

Escutemos os “doutos”, exclamando com pomposa verbosidade que “o que não está no mundo das leis não está no mundo real”, tornando possível a constatação absurda de que o mundo real simplesmente não está contemplado pelo mundo das leis – e gargalha disso tudo Donald, o zumbi, criação maior de nossa ciência.

Já se falou que quando o mundo das leis ignora a realidade, esta se vinga ignorando-o. E eis o zumbi, criado ao arrepio das mais básicas regras da natureza, afrontando com seu permanente estado catatônico a inteligência viva de tantos doutores!

Algum dia, diante do absurdo da situação, os legisladores aparecerão com alguma lei nova que torne possível declarar-se vivo quem vivo esteja - e na sessão que aprová-la lá estará, entre os sábios doutores, a figura gargalhante do zumbi, a gritar a mediocridade dos homens.

Que tal olharmos, com olhos de ver, o mundo que nos cerca, tão rico em formalismos, rituais, leis e burocracia? Há alguém catatônico nele – mas seguramente não é Donald, o zumbi.

Ficamos felizes em tê-lo como nosso leitor! Assine para continuar aproveitando nossos conteúdos exclusivos: Assinar Já é assinante? Acesse para fazer login

SUGERIMOS PARA VOCÊ: